domingo, 24 de junho de 2007

Núbia Lafayette : Não se fazem mais músicas como antigamente

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Os blogs Um que tenha e Som Barato
prestaram uma justa homenagem a Núbia Lafayette.









Este é o disco em que ela canta Dalva de Oliveira
http://umquetenha.blogspot.com/2007/06/nbia-lafayette-nbia-lafayette-canta.html
Agora este aqui embaixo é o imprescindível, tem todos os grandes clássicos de dor-de-cotovelo que ficaram famosos na sua voz. Com bons arranjos.
http://sombarato.blogspot.com/2007/06/nbia-lafayette-20-super-sucessos.html


Este ano ela foi uma das principais atrações o Festival da Seresta aqui do Recife. E eu tava lá no Marco Zero quando ela começou o show. Antes dela, Waldick Soriano havia se apresentado. E era Waldick que estava com a saúde abalada - Núbia se apresentou com uma segurança e um poder de interpretação extraordinários, parecia estar muito bem. Não fiquei até o fim - estava sozinho e estava tarde. Núbia foi internada 15 dias depois desse show, num hospital em Niterói, onde ficou até falecer em 18 de junho.

Mas o que eu quero me referir aqui é à notável mudança de estilo entre as gerações. O existencialismo dos versos d'outrora é quase impossível de ser encontrado hoje em dia - letras diretas em que a vida é medida pelos extremos, em que tudo é exagerado e trágico. Waldick Soriano cantou uma música que só pelo verso "Esta é a noite da minha agonia", entoado na sua característica voz sofrida, me arrepiou e me fez derramar lágrimas. Existe algo parecido atualmente? Alguma música que propicie esse tipo de catarse? É, as músicas tristes continuam existindo, mas elas perderam essa aura quase mítica, esse exagero, essa propensão a transformar o cotidiano em um oceano de provações sobre-humanas. Que vinha inclusive de um imaginário do cristianismo e sua noção de culpa - essa música começa assim: "Esta noite eu queria que o mundo acabasse / e que para o inferno o senhor me mandasse / para pagar todos pecados meus". Queria ter isso na voz de Waldick pra botar aqui... mas no 20 Super Sucessos tem a versão de Núbia.

Exemplo perfeito no repertório de Núbia Lafayette é LAMA. Havia um elemento também de vingança. E algo de desafiador, especialmente quando era uma mulher cantando, um desabafo, um grito de liberdade. Muito humano. Hoje em dia só lembro mesmo aquela música do Conde, "Porque meu bem, ninguém é perfeito e a vida é assim", que se aproxime um pouco do teor desses clássicos. Mas veja só, nessa música LAMA a mulher chega a dizer "Quem és tu? Quem foste tu? Não és nada!". Brother, num é careta não! Nada de relativismo pós-moderno!

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Lama

Núbia Lafayette

Composição: Aylce Chaves e Paulo Marques

Se quiser fumar eu fumo
Se quiser beber eu bebo Não interessa a ninguém

Se o meu passado foi lama Hoje quem me difama Viveu na lama também
Comendo da minha comida Bebendo a mesma bebida Respirando o mesmo ar
E hoje, por ciúme Ou por despeito
Acha-se com o direito De querer me humilhar
Quem és tu? Quem foste tu? Não és nada
Se na vida fui errada Tu foste errado também
Não compreendeste o sacríficio, Sorriste do meu suplício Me trocando por alguém
Se eu errei, se pequei, Pouco importa
Se aos teus olhos estou morta Pra mim morreste também

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Propaganda forçada: tem uma música minha que eu queria que se tornasse um clássico das mesas de bar, bem nesse estilo, para os momentos de maior depressão que uma pessoa pode ter. Chama-se "O que é que eu estou fazendo", está ainda incompleta e complicada de terminar.

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