segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Joe Kubert (1926/2012)

Poucas coisas me comovem tanto como histórias em quadrinhos, e como os criadores das histórias em quadrinhos e suas vidas, notoriamente sacrificadas e seus talentos nem sempre reconhecidos. Talvez o público em geral não saiba quem é, mas no meio dos quadrinhos poucos nomes são tão reverenciados como o de Joe Kubert (1926/2012). Kubert nasceu na Polônia, de família judia, mas viveu nos EUA sua vida inteira. Ele morreu agora neste domingo Além da importância que ele teve como desenhista e co-criador de diversos personagens, manteve uma escola de quadrinhos que foi referência para várias gerações.

Entre os primeiros gibis a que tive acesso, estavam algumas edições dos anos 70, de heróis como Super-homem, Tarzan e Capitão Marvel. Eu nasci nos anos 80, mas a minha mãe guardado essas edições da EBAL para nós. Quando eu cresci e pude entender melhor o que aquelas revistas me passavam, descobri que entre os artistas haviam nomes essenciais para a HQ moderna. A narrativa impecável de Joe Kubert estava em uma dessas revistas, Tarzan n. 37, junho de 1979. Aqui vai, portanto 2 páginas brilhantes dessa HQ do Tarzan quefoi marcante para minha infância: Tarzan tem alucinações após invadir o banquete de uma tribo africana e roubar sua comida.

Tarzan. Art by Joe Kubert.
Outra coisa brilhante que Joe Kubert tem no currículo são as histórias do Sgt. Rock e do Às Inimigo, alguns dos melhores quadrinhos de guerra de todos os tempos, com roteiros inteligentes e realistas (geralmente escritos por Robert Kanigher; eram bem avançados para sua época). Com Joe Kubert desenhando, dificilmente pode sair coisa ruim. Tenho vontade ler suas obras tardias, como a graphic novel "Fax from Sarajevo" que nunca saiu no Brasil (quem sabe agora?). No mais, uma grande perda para os quadrinhos, um mestre do desenho e da narrativa. Ontem estava vendo Caetano Veloso filosofar sobre cinema, e o que ele fala sobre cinema americano também se aplica aos quadrinhos americanos: existe um domínio da narrativa, mesmo que o roteiro seja bobo, existe uma clareza de contar essa bobagem, que não existe na Europa, que é muito específico da nação americana. Mesmo considerando que Joe Kubert e vários outros eram estrangeiros ou filhos de estrangeiros, o florescimento das histórias em quadrinhos acontece lá, de maneira mais selvagem, desenfreada. E ainda mais, existe algo de muito forte, muito moderno e primitivo ao mesmo tempo, quando se pensa em Alex Toth, Jack Kirby, Harvey Kurtzman ou em Kubert (em geral, judeus americanos.)

As suas influências estão em todo lugar, em Neal Adams, em Jordi Bernet, tantos outros. Seu trabalho é continuado pelos filhos também quadrinistas Adam Kubert e Andy Kubert (eu nem gosto deles, pra ser sincero). Sua escola formou gente como Stephen Bissette, John Totleben, Tim Truman, Rick Veitch, Alex Maleev, Eric Shanower, etc e eu tenho certeza que são muitos outros etc.

In Comic-Book Profiles #1 (1998), Neal Adams had this to say about Joe Kubert:
It’s one thing to be a comic book artist, and it’s another to be a man and be a comic book artist, and Joe is that. Since I’ve been in the field, I’ve discovered that there are very few in the comic book business that you really can respect wholeheartedly. Joe is one of those.



Alguns links:
http://en.wikipedia.org/wiki/Joe_Kubert
http://www.wired.com/geekdad/2012/08/joe-kubert-honored-save-for-dc/
http://srbissette.com/?p=15464
http://www.newsfromme.com/2012/08/12/joe-kubert-r-i-p/
http://ultimosegundo.ig.com.br/cultura/livros/2012-08-13/morre-joe-kubert-um-dos-maiores-quadrinistas-americanos.html