segunda-feira, 28 de julho de 2008

finalmente: Yanna Lee em entrevista!

ENTREVISTA: Yanna Lee
Por Germano Rabello

Thiago Sales, extremamente comunicativo e carismático, fez do Yanna Lee um experimento musical solitário. Não somente ele é o único membro da banda, como seu estilo não encontra paralelo em nenhuma outra banda do Recife ou do Brasil. Sua mistura de synth pop, frases apaixonadas, ironia e timbres anacrônicos tornam seu som muito peculiar, do tipo que polariza reações. Aliás, quem o conhece sabe do seu gosto por uma boa discussão, que se manifesta especialmente através das polêmicas que ele já espalhou pela internet. Atualmente vivendo em Portugal, onde prossegue a sua trajetória acadêmica, Thiago concedeu esta entrevista por email. Nossos agradecimentos à sua assessora de imprensa, Maria Carolina Santos.

http://www.myspace.com/yannalee
http://www.yannalee.plastic4records.com/
http://www.orkut.com.br/Community.aspx?cmm=25650471

1) O que motiva você a escrever uma música? Qual foi a inspiração mais curiosa ou inesperada que você já teve?
TS. O que me motiva a escrever uma música são as pessoas que conheço ao acaso, e os locais que, igualmente, conheço ao acaso. Nunca tive amigos fixos, talvez apenas um, e os lugares e pessoas sempre passaram pela minha vida como se eu estivesse sendo obrigado a ver o mundo através de um projetor de imagens. Tento viver com intensidade as milhares de relações efêmeras que tive em minha trajetória.

De certa forma, obrigo-me a abandonar tudo o tempo inteiro, talvez por tédio, enfado do cotidiano. Sou adepto fervoroso do livro de Eclesiastes, onde Salomão diz como muita sabedoria de que "não há nada de novo debaixo do sol". Tento fazer com que minha vida banal possa, de alguma forma, ser narrada. Minha inspiração vem da forma como a natureza me obrigou a viver, como um sujeito sem laços.

Acho que a inspiração mais inesperada e, ao mesmo tempo, a mais constante em meus pensamentos, é a imagem de rodoviárias, portos e aeroportos. Sinto-me mal se eu passar muito tempo sem ir numa rodoviária. O agreste de Pernambuco tem as melhores rodoviárias que conheci, locais de imensa coisificação poética. Uma rodoviária fala muito pra mim - os aerportos também, porém, os aeroportos parecem mais iguais que as rodoviárias. A minha inspiração mais curiosa foi, certamente, o aeroporto de Belém - considero-o um local onde energias da casa do caralho são cooptadas por sua estrutura mística.

2) Pela sua música, parece que você é muito romântico. Porquê ? Qual a origem de todo esse romantismo?
TS. As pessoas têm uma idéia equivocada das histórias de amor. Por exemplo: muitas vezes, no cinema, os diretores pensam que a história de fundo está reforçando a história de amor, mas não, a história de amor reforça a história de fundo. Ora, no livro de Dickens, Grandes Esperanças, o amor de Pipf é o fio condutor de toda uma trajetória. Quando sentimos que não vamos ser especiais, que seremos esquecidos como todas as "sombras" da História, só nos resta tentar fazer de alguém um diário de registros. Na verdade, as mulheres, para mim, funcionam como meus diários de registros - eu ponho nelas minhas idéias, as deixo como testemunha de minha insignificância, mediocridade, e pequenez.

Meu romantismo é uma confissão: Como serei esquecido por todos, quero pelo menos ter a certeza que minha amante carregará um pedaço de mim. Acho que é isso que sempre aconteceu, tive a preocupação que, nas minhas relações, as mulheres levassem um pedaço de mim para espalhar no mundo como praga, como coca-cola.

Tento me apaixonar pelos dias ao invés de me apaixonar pelas pessoas. Gosto de acordar e ter a sensação que sou livre, que posso dormir o quanto quiser, que posso ir para onde eu quiser. Eu sou apaixonado pelos meus roteiros vazios do dia a dia, contudo, a melhor forma de expressar minha fascinação pelos dias é representando isso numa mulher.

3) Apesar de muito talentoso, sinto que você não mergulha de cabeça na possibilidade de viver de música. Isso acontece devido aos seus outros interesses ou uma descrença no mercado ?
TS. Peço, pelo amor de Deus, que ninguém me obrigue a tomar esse mundo a sério. Paulo Frâncis dizia que a única coisa que tinha certeza é que esse mundo não é sério. O mercado de música é uma manifestação por excelência da piada do mundo. Com exceção de Bryan Ferry e Reginaldo Rossi, o mercado de música não me interessa! Assim como os mercados hegemônicos em geral. Acho a medicina oficial uma piada, acho a sociologia e a filosofia oficial outra grande piada - não me obriguem a levar Robert Gallo e Jacques Derrida á sério!

Quando falamos em mercado, sempre pensamos no "mercado oficial". Esse chamado "mercado oficial" é representado por tudo que há de pior na arte.



4) O que seus estudos no CFCH (Centro de Filosofia e Ciências Humanas) acrescentaram à sua música?
TS. O CFCH tem uma coisa muito boa: Aqueles bancos lá na frente que são acertados por um vento muito prazeroso que muito me agradava - acho que todo preguiçoso iria apreciar a localização maravilhosa daqueles bancos. Albert Cossery, um dos melhores escritores para mim, dizia em seus romances que qualquer imbecil pode conseguir um diploma, ora, eu concordo cegamente com a idéia de Cossery. Esse é o motivo que não me faz rir dos cientistas que ficam olhando no microscópio como quem faz algo sério. Isso também é o mesmo motivo que me faz rir dos sociologos e antropólogos que dão "pareceres" sobre populações. Quem sou eu para dizer que os "balineses" se comportam de uma forma específica? (estou aqui citando como exemplo uma expressão do Clifford Geertz).

Contudo, o CFCH é um lugar que podemos encontrar sujeitos interessantes, os mais interessantes mesmo desistem dos cursos, os menos interessantes, como eu, continuam lá estudando.

5) Você está morando em Portugal. Qual é a vibe? Isso vai influenciar seus próximos trabalhos?
TS. O lugar que mais me marcou foi a cidade de Macapá. Não existe local no mundo tão impressionante quanto Macapá. Andei por Paris, por Madri, por Lisboa, e não vi metade do encanto que vi em Macapá. O Brasil tem uma simplicidade contundente, o agreste pernambucano, por exemplo, é uma trilha de beleza descomunal por toda parte. O norte do Brasil é ainda mais fascinante pra mim, sou apaixonado por Manaus e por Belém também. Não existe capital européia que me dê tanto impacto quando esses locais. Eu gosto da cor dos rios do norte brasileiro, gosto do semblante das pessoas. No Brasil, todo mundo é filósofo - a desorganização das cidades nos dá sempre o que pensar, porque a realidade é em suma desorganizada.

Uma vez, dormindo num hotel vagabundo de Belém, um sujeito me disse "esse balcão, que nos separa, explica toda a história da humanidade. O grande problema é ficar onde o sr está, fora do balcão". Eu não poderia ouvir isso em outro lugar do mundo, por isso, duvido que alguma cidade da Europa possa me marcar com a mesma intensidade. Contudo, pude conhecer grandes intelectuais escondidos em antigos prédios portugueses, esses grandes intelectuais muito me acrescentaram na forma como se vê o mundo.

6) A música do Yanna Lee é bem retrô. Você tem um poster de Jon Secada no seu quarto?
TS. Ah sim! A sonoridade do Yanna Lee ser retrô é fruto da minha limitação cognitiva e da minha preguiça de programar arranjos que sejam diferentes dos que já sou acostumado a fazer. De qualquer forma, sou apreciador de muita velharia. Gosto, acima de tudo, de ouvir o passado das pessoas. O passado das pessoas têm pra mim um encantando, uma mágia, únicos! Sabe, sempre que tenho oportunidade, pergunto como as pessoas são o que são hoje, isto porque o que vale a pena é a jornada. Por isso a propaganda do Johnny Walker é tão poética: Keep walking...O que vale é a caminhada, a jornada.

Mas vou citar aqui os artistas que mais ouvi e mais me influenciaram: Walter Franco; Bryan Ferry & Roxy Music; Sérgio Sampaio; Baybird & Stephen Jones; Talk Talk & Mark Hollis; Abrar Ul Haq; Khaled; House of Love & Guy Chadwick; Pixies & Frank Black; Jean-Michael Jarre; Franckyn Vincent; Jean-Pierre Mader; And One (uma banda de synth alemã); Noel e os outros grandes nomes do freestyle; Jorge Mautner; Reginaldo Rossi e os outros nomes do brega pernambucano que tocavam no Cardoso; Vangelis...Poderia citar outros, mas esses sempre me vêem a cabeça!


Gracias Thiago! Aguardamos ansiosamente os próximos hits do Yanna Lee !

3 comentários:

LINDINHA disse...

GOSTEI MUITO DO SEU BLOG VISUALMENTE E PELO CONTEUDO LEGAL,
PARABÉNS.

Anônimo disse...

Thiago, mais que um grande compositor de musica pop, um colecionador de frases e historias cheias de poesia. O Yanna Lee jah estah gravando outras musicas, uma inclusive com vocal femino. Tomara que essas musicas saiam logo!

HVB disse...

bacana a entrevista, Germano...
parabéns...