segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Chico e os anos 90

Como ando pesquisando sobre os anos 90 para um roteiro, tenho pensado um pouco em Chico Science. Vou compartilhar com vocês.

. Repensando.

A música "jovem" de pernambuco não foi absorvida por 99% da população. Claro que uns 50% por cento da população não sabe o que é cultura. Ou tem a visão deturpada da cultura que é repassada pela rede globo e pela maioria dos meios de comunicação.

Chico Science conseguiu ser absorvido como ícone.

Mas eis o que eu penso:
apesar de ter sido o grande transmutador, a grande ruptura,
Chico sentia o peso de uma cidade atrasada, mesquinha, em que a pobreza material contamina o espírito.
Num ambiente como esse, a pessoa com tendência artística é reprimido violentamente.
Tudo parece dizer: Não faça nada, fique quieto, caladinho, seja um bom menino.

E nesse contexto, a articulação de Chico foi algo tão difícil de trazer a tona que veio embalada num conceito de marketing, de mangueboy, que era um saco já na época. Foi a sua forma de tentar transformar o problema - ser do RECIFE, na época em que isso não valia nada - em solução.

Por isso eu acho que Chico teceu momentos geniais, inestimáveis, mas vem de um processo de se auto-afirmar, que parece em alguns momentos ingênuo demais. Uma coisa que desaguou no ufanismo pernambucano chato, uma valorização falsa e superficial da cidade e de certas tradições, que representa apenas uma modernização da tendência de matar a cultura, a cultura que é viva e se transforma - a solução da sociedade é SEMPRE empalhar e deixar tudo num museu.

E hoje a música dele é lembrada na sua forma mais caricatural, às vezes durante o carnaval, ocasião em q já vi tocarem "A Praieira" inúmeras vezes.

A morte de Chico parece ter sido parte de um estranho complô que matou ídolos durante os anos 90. Algo não deliberado, mas que parece ter sido regra. Quando não morriam as pessoas, as bandas acabavam. Todas as carreiras desandavam, talvez por terem sido anos de transição, do surgimento e declínio do CD. Estamos agora encerrando os anos 2000, uma geração mais pulverizada, mais desencanada, mais distante das grandes gravadoras, mais auto-suficiente. Eu lembro os anos 90 - era adolescente - como uma mistura de ativismo e negativismo. O Nirvana, os quadrinhos da Vertigo, eram coisas que tinham um potencial libertador, pelo grau de niilismo com que se chocavam com certos valores, ao mesmo tempo que pareciam completamente auto-destrutivos. Moral da história? Não sei. Eu me sinto melhor nos anos 2000.

Estes pensamentos estão um pouco desconexos, eu sei. Mas achei melhor escrever do que esquecer...

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