domingo, 16 de janeiro de 2011

Harvey Pekar : trabalhador dos quadrinhos

O grande Harvey Pekar morreu ano passado, uma pena, já que era uma das figuras mais interessantes do panorama das HQs.... Recentemente comprei o BOB & HARV, suas parcerias com Robert Crumb, pela editora Conrad, e baixei várias edições do American Splendor via torrent ou pelo sebo underground (claro, nem vou ler tudo isso agora, porque tenho preguiça de ler no computador - faz mal...) E assisti finalmente o FILME, American Splendor - Anti-herói Americano, que é muito muito bom. O que foi publicado de Harvey no Brasil? BOB & HARV, e como Laerte diz na introdução, saíram algumas HQs na Piratas do Tietê (mesmo sem autorização).... Recentemente, foi publicado OS BEATS, projeto coletivo sobre os escritores Beat, pela editora Benvirá.

A DC/ Vertigo havia publicado uma série nova com ele, uma oportunidade muito legal de vê-lo fazer parcerias com nomes bem diferentes: Gilbert Hernandez, Eddie Campbell, Ty Templeton, Josh Neufeld, Richard Corben, Hunt Emerson, Rick Geary, Darwyn Cooke... Seria legal ver esse material no Brasil, mas as editoras continuam reverenciando umas séries bestas da Vertigo que não fazem mais que reproduzir o status quo das séries de TV e dos filmes de Hollywood.

Chama atenção em Harvey Pekar: Ele tinha uma perspectiva única. Era uma perspectiva da classe trabalhadora, mais próxima do homem comum. Uma pessoa bastante cabeça, que colecionava discos de jazz, mas não era um "artista" (embora a gente saiba que o artista também é um operário).


Essa HQ "Working Man´s Nightmare" mostra isso de maneira brilhante, como a vida dele só fazia sentido através do trabalho. Em um certo momento do sonho, esquece QUAL é seu trabalho, e isso faz crescer o desespero dentro dele.... Ilustrado de maneira inesquecível por Gerry Shamray.

E quem era Harvey Pekar? Era um gênio? Acho que sim, mas de uma maneira pouco óbvia. Ele não tinha grandes recursos de criatividade. Ele basicamente documentava coisas que aconteciam na vida dele, tinha um ouvido atento e memória pra lembrar de diálogos impagáveis. Ele não sabia desenhar. Teve a sorte de conhecer Robert Crumb, e o impulso de lançar seu próprio gibi, de maneira independente. O livro sobre a geração Beat mostra que a narrativa dele era muito simples, podendo se converter em algo até maçante e óbvio demais quando não era bem ilustrada, mas em geral interessava pelo assunto....

O que ele registrava nas suas revistas era muito diferente das coisas que se fazia, pela despretensão, por ser autobiográfico numa era em que isso ainda não era comum. Mas mesmo com as toneladas de quadrinhos autobiográficos que são despejadas no mercado agora, não existe NADA IGUAL a American Splendor. Existe algo de muito contemplativo, algo dessa simplicidade e do registro de um mundo suburbano, desimportante, que parece estar em extinção... Algo que está livre das "sacadas espertas" de narrativa que às vezes tiram a credibilidade da narrativa.

Tem uma HQ muito engraçada, que mostra Harvey comendo e as pessoas chegando e criticando o que ele comia... ele só comia junk food. A reação natural é ler isso e conectar aos problemas dele com câncer. È da revista SNARF 06, de 1976, não sei se foi coletada nas antologias da American Splendor. Desenhos de L. B. Armstrong. Clique pra ampliar...

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