terça-feira, 14 de julho de 2009

A Odisséia de uma leitura

Os cientistas até hoje se perguntam onde ficava Ìtaca, a ilha de Ulisses (ou Odisseu, na forma grega), herói da Odisséia.
http://www.channel4.com/news/articles/science_technology/evidence+backs+homers+isle+theory/2439827

Estranha a maneira como ontem, depois de muito tempo, eu retomei a leitura do livro de Homero. Eu comprei num sebo, sem capa (tinha um exemplar com capa também, mas preferi o sem capa porque era da editora Cultrix). Estava profundamente influenciado pela música "Mulher nova, bonita e carinhosa faz o homem gemer sem sentir dor".

Comecei a ler o livro, de maneira ávida, ininterrupta, fascinado com as viagens de Ulisses e sobretudo com a própria natureza da linguagem, que reflete uma civilização fascinante, diferente da nossa. Outros costumes, outra forma de encarar a vida. Contrasta principalmente na nossa civilização pós-moderna, que se manifesta através de secura ou de ironias. A Odisséia recorre sempre a adjetivos edificantes, elogiosos, imponentes para as coisas e as pessoas. Tipo ao falar com outro persongem, Telêmaco ou Ulisses enumeram suas qualidades e sua ascendência, tipo: "Nobre Anfrínomos, varão insigne entre todos, cabecilha de guerreiros, nobre pastor, filho dileto de Ésdinomo e Elaitia" (nomes totalmente inventado, mas a vibe é essa!)

O livro todo vem de uma tradição oral, história transmitida por várias gerações, pelos chamados aedos. Assim sendo, ele recorre a vários clichezinhos, frases feitas da época, que são encaixados na narrativa periodicamente, tais como "anoiteceu e escureciam todos os caminhos" (meu preferido!) ou "numseiquem proferiu aladas palavras" (lindo) ou "Mal raiou a filha da manhã, Aurora de róseos dedos..." (legal tb).

Pois bem, a certo ponto da narrativa, Ulisses enfrenta perigos inimagináveis nos mares e em ilhas em que passa. São partes emocionantes. Aí chega a terra firme, a sua terra, o seu reino, Ítaca.

Aí justamente eu parei de ler o livro. Talvez isso seja sintomático da minha personalidade. Quando o cara finalmente tá chegando lá, eu paro de ler o livro. Também porque achei que era uma parte que ia rolar vingança e é um sentimento com o qual eu aparentemente não consigo me identificar muito. Ou talvez tenha me cansado um pouco a linguagem, não sei.

Muitos meses depois, ontem eu peguei de volta o livro pra ler. Isso tem a ver com esse momento da minha vida em que eu tô retomando várias coisas, liguei pra minha professora de canto pra tentar voltar a ter aulas, etc. O livro tem uma linguagem tão eletrizante que acabou me deixando com insônia. Emocionante a parte em que pai e filho se reencontram.

Ainda não terminei.
Mas acho que dessa vez chego lá.

Abrazos.

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