terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Daniel Clowes, Flávio Colin

Uma consideração interessante que liga os aparentemente incompatíveis os quadrinistas Daniel Clowes (americano, nascido em abril de 1961) e Flávio Collin (Rio de Janeiro, 20 de junho de 1930 — 13 de agosto de 2002) : ambos, em algum momento, foram influenciados pelos gibis de terror da E.C. Comics, que foram por muito tempo os mais vendidos nos EUA, antes das leis do Comic Code Authority limitarem a exposição de cadáveres, corpos mutilados, assassinatos, torturas, etc.

E embora a E.C. tivesse artistas fenomenais, ela mostrava um estilo de narrativa totalmente ultrapassado. Com texto demais, legendas que interrrompiam a fluidez da narrativa, subestimando o poder de comunicação do desenho.

É por isso que folheei "Caricature", coleção de HQs curtas do Daniel Clowes, e não consegui me interessar em ler mais do que duas ou três histórias: ele segue esse padrão ultrapassado, embora de uma forma um pouco mais contemporânea, é verdade, e consegue estragar histórias de outra forma seriam boas. Uma das melhores é essa em que o cara é totalmente obcecado pelos anos 60, ou mais especificamente, 1966.

Eu soube que a Cia dos Quadrinhos vai lançar Wilson, o trabalho mais recente dele. E gosto muito do Clowes, espero que seja bom. Mas como Alan Moore disse certa vez, muitos dos quadrinhistas de vanguarda estão presos a uma visão adolescente e fatalista do mundo, carapuça que cai bem em alguns trabalhos do Clowes. Apropriadamente, Clowes fez o cartaz do filme de Todd Solondz, "Happiness", que é a cara de como tudo isso ficou ultrapassado. Esse afã totalmente negativista que pairava no ar em meados dos anos 90.

Não me entendam mal: Ice Haven, Ghost World, Como uma luva de veludo moldada em ferro são obras-primas, Clowes é um dos pilares da HQ contemporânea. Mas pessoalmente tomei um certo abuso dele.... quando notei que era um desenhista-cabeça: no sentido de que seus personagens tem cabeças grandes, expressivas, e corpos desajeitados.... e em como os balões dos personagens ocupam SEMPRE a parte de cima dos quadros, como se estivessem presos lá.... acho isso muito restritivo. Algo que também senti em Adrian Tomine. Além do excesso de texto das HQ curtas. O que não invalida as criações dele: mas que neste momento não fazem mais tanto sentido pra mim. Porque me parecem de uma pessoa que não consegue superar seu próprio cerebralismo e fica apontando o tempo todo os defeitos dos outros...

Recomendo um excelente Tumblr sobre Clowes:
http://fuckyeahdanielclowes.tumblr.com/

Quanto a Flávio Colin, as criações dele são muito interessantes. Quanto ao visual, são originais, originalíssimas, até. Mas quando eu comprei a coletânea "O filho do Urso", lançada pela Editora Opera Graphica, esperava um pouco mais das histórias e até que viesse com mais páginas... é ótimo que tenham lançado essa coletânea, mas acredito que Flávio Colin tem muitas histórias melhores e que um editora mais cuidadosa poderia lançar uma coletânea mais decente, mais volumosa, e se possível, com um design de bom gosto!

Colin pra mim é o equivalente brasileiro do Alex Toth. Sua narrativa é eficiente, o desenho é simples, despoluído, estilizado. É um dos raros artistas brasileiros a assumir um estilo tão simples, moderno, quando a grande maioria dos nossos artistas do gênero fantástico/terror (no qual Colin trabalhou por embora não tenha ficado restrito a ele) usava um traço poluído e ostensivo. A verdade é que muitas vezes o uso indevido de expressões exageradas prejudicava seu trabalho... prejudicava a "suspensão da descrença". Mas muitas vezes suas HQs eram prejudicadas por roteiros ruins, com tramas óbvias, tão característicos da E.C., roteiros que descreviam com palavras e desenhos a mesma coisa, sendo redundantes. Infelizmente essa tradição do "estilo E.C." prosseguiu tanto nas HQs brasileiras como em revistas como Creepy, House of Mistery, House of Secrets (as duas revistas da DC Comics), em que os textos em geral eram mais simples, mas sofriam com a mesma falta de boas idéias quase sempre....

Vou escanear uma HQ dele pra mostrar aqui no blog depois....

http://www.nostalgiadoterror.com/hqnostalgia/slides/flavio_colin1.html

Recomendo de Colin: "Estórias Gerais", "Vizunga", "A guerra dos Farrapos", entre outros.

2 comentários:

Anônimo disse...

pessoalmente, percebo esses traços restritivos de Clowes que descrevestes, como algo que funciona em prol da estética minimalista e "travada" que dá identidade ao trampo dele... e o lado negativista-adolescente mais como uma catarse psicanalítica dessa "fase existencial" do que fatalismo puro e simples.
pô, supimpa que a Cia dos Quadrinhos vai lançar a obra mais recente dele...
Mingus

gr disse...

É possível ver a obra de Clowes desta maneira, Mingus. E é interessante sem dúvida.... eu no entanto tenho procurado uma visão mais generosa da vida. Eddie Campbell é meu modelo de quadrinista no momento - ele desenha de uma maneira mais solta, sem aquela perfeição de linhas retas do Clowes, mas com movimentos mais humanizados.